Arte encomenda-se?
Boa parte dos artistas afirma que é no momento de inspiração que eles desenvolvem as suas actividades/habilidades, entretanto, com o advento da internet tivemos vários eventos que mudaram o paradigma, ou seja, na era digital não só a inspiração serve como combustível para a criação de obras artísticas.
No secúlo XX tivemos artistas que retratavam o quotidiano dos seus povos, criticavam o opressor e outros focavam em reproduzir obras de arte com paisagens e ilustrações, assim tínhamos a identidade cultural expressa em cada rua, beco e avenida do nosso país. Theodor Adorno e outros pensadores que faziam parte da escola de Frankfurt criticavam a ideia de produção de obras de arte em massa porque segundo esses téoricos “a originalidade da obra é perdida” quando a multiplicamos e vendemos como qualquer produto industrial e em contrapartida os pensadores da escola de Chicago acreditavam que multiplicar a obra é permitir que mais pessoas tenham acesso a mesma e por via disto, tinhamos uma democratização de tal bem ou produto que no caso é uma obra artística.
Poderíamos focar de forma isolada em obras plásticas, cerâmica, cinema ou mesmo música porque essas são as áreas que mais fala-se quando o assunto é arte, porém como retratamos no primeiro parágrafo que a internet trouxe um novo paradigma sobre produção de arte e que isso foi causado por inúmeros eventos como o capitalismo, busca por reconhecimento social e falta de recursos básicos para desenvolver as suas habilidades técnicas e conceptuais.
Os três itens citados no parágrafo anterior fizeram com que os artistas criassem suas obras de forma desenfreada e sem ter em conta se a obra de arte é ou não digna de ser comercializada, pois, o objectivo destes artistas é apenas vender. Um dos maiores exemplo sobre essa produção desenfreada é vista na capital de Moçambique nas zonas de elite e em eventos de exposição das indústrias culturais e criativas.
Na internet temos jovens que encontraram uma forma de monetizar as suas habilidades como actores ou comediantes, o questionamento começa quando esses jovens são pagos para criar um determinado spot publicitário nos seus vídeos em benefício da empresa que encomendou o serviço, porque assim notamos que perdem a sua essência e relembramos o pensamento da escola de Frankfurt.
A Arte encomendada dificilmente chegará ao impacto causado pela arte que advém da inspiração, mas isso não determina o insucesso de nenhum tipo de arte, porque os sentimentos que cada indivíduo terá ao ver a obra serão totalmente diferentes.
Quando o artista é talentoso e criativo nenhuma barreira pode lhe impedir de ser autêntico ao desenvolver uma obra de arte por inspiração ou por encomenda, entretanto, o esforço impregado em cada obra será nítido e para um observador experiente, as obras sempre demostrarão diferenças peculiares que podem influenciar no valor das mesmas.
A desvalorização dos artistas moçambicanos é uma das causas da existência de artesãos, produtores de conteúdos entre outros profissionais das artes e cultura a seguirem o caminho da sobrevivência sem se importar se é ou não genuíno o que está a ser retratado na obra de arte. Sendo assim, verificamos que as obras de artes não são tão valorizadas como deveriam, pois, pouco demostram sobre o meio em que o artista está inserido e muito ilustram sobre os acontecimentos globais.
Acreditando que será dificil ter um cénario comparado ao do secúlo passado em que os artistas eram os porta-vozes do seu povo, quero apelar aos mesmos que busquem estudar a história do seu continente e principalmente do seu país para que pelo menos nas artes e cultura tenhamos pouca influência do ocidente e assim ajudemos a construir uma sociedade melhor e quiçá influenciar as gerações vindouras a fazer uso das tecnologias de informação e comunicação para triplicar o senso de patriotismo e unidade nacional.
Nota: As obras usadas neste artigo não são alvo de crítica por parte do autor deste artigo, o que deve ser alvo de análise é o posicionamento do autor perante a questão sobre a produção da arte por inspiração ou por encomenda.