BURGER KING: Uma identidade visual menos artificial

Durante a história da evolução do design como profissão e também como ciência, sempre existiu conflitos entre os praticantes da profissão. Alguns conflitos chegam a ser pela tendência em si, não chegando a trazer alguma solução real para o que é contestado.

Podemos destacar, por exemplo, o movimento pós-modernista cujo princípio era a contradição do movimento modernista. No contexto do design gráfico, em particular, com o advento das máquinas houve uma nova dinâmica de trabalho, passando a ser uma área mais democrática, o acesso ao computador com ferramentas que um designer usava ou a capacidade de reprodução mais rápida, é um exemplo sobre o que a industrialização permitiu.

Em meio a tantos avanços tecnológicos e o surgimento de novas plataformas de veiculação de informação, o design tende também a transformar-se, embora os princípios sejam os mesmos, porque o homem continua sendo o centro para o qual o produto final se destina.

A Burger King muitas vezes abreviado como BK revelou a sua nova identidade visual em Dezembro de 2020 que teve uma recepção bem calorosa pelos seus clientes e também pelos designers. A identidade foi criada pela equipa da Jones Knowles Ritchie (JKR), agência sediada em Londres que, a meu ver e pelo resultado, a agência respeitou o DNA da marca, facto bastante pertinente no processo de desenvolvimento de qualquer projecto.

Imagem: cachetejack

Imagem: cachetejack

Milton glaser já dizia que pouco, não significa, essencialmente, muito no campo de design. Para Glaser não importa se é muito ou pouco, o que importa é apenas o suficiente. E olhando para Burger King, notamos que ela não focou-se em reduzir os elementos, pelo contrário, consoante a necessidade, acrescentaram mais elementos e conseguiram, no final obter um resultado que várias empresas forçosamente procuram obter, simplicidade.

 

A história por detrás da nova identidade visual da Burger King

Design não tem a ver com tendências. Claro que designers devem estar a par de todas tendências – embora não devam conceber produtos baseando-se nelas.Rafael Breu, designer gráfico membro da JKR revelou que este projecto foi iniciado no princípio de 2019, antes do alastramento da pandemia da COVID-19 e repisou que o projecto não tem nada a ver com a época em que estamos a passar.

Primeiro, a BK quis fazer uma mudança em seus produtos, ou seja eliminar todos elementos artificiais em todos seus produtos e focar mais em food e menos em fast. Consequentemente houve a necessidade de refazer a marca gráfica de modo a transmitir a essência da nova mudança.

O logótipo que entrou em reforma no ano passado foi concebido pela Agência Sterling Brand na responsabilidade da designer Debbie Millman em 1999, tendo sido útil por 20 anos.

Imagem: Logomarcas.net | Criado em 1999

Imagem: Logomarcas.net | Criado em 1999

Com o compromisso de limpar todos ingredientes artificias, desde cores, sabores e conservantes de origem artificial, caio bem o redesign. No antigo logótipo existia lá a cor azul em forma de C, e segundo Eva Heller, em seu livro A psicologia das cores advoga que a cor azul remete a superficialidade e que não é comummente usado para representar alimentos – embora ai possa sugerir velocidade pela forma do arco – estavam mais focados em fast.

A BK possui vários restaurantes em diversos territórios pelo mundo. O que fez com que desenvolvessem também uma família tipografia própria para não terem que pagar por direitos autorias de tipografias compradas, o que ia custar uma boa fortuna, mas acima de tudo para manter uma personalidade forte da marca.A tipografia Flame, possui diversos pesos, as mesmas foram inspiradas na fonte tipográfica do logótipo para criar algo que quando vista, pudesse dar ao espectador a sensação de poder mastigá-la.

Imagem: cachete Jack

Imagem: cachete Jack

Em relação as cores, por parte dos espectadores acredita-se que a identidade traz consigo uma roupagem vintage, e Rapha Breu numa das entrevistas defendeu que as cores usadas foram inspiradas no próprio hambúrguer e em diversos alimentos tais como alface e que não têm nada a ver com o resgate do vintage. Essa ideia pode ter sido influenciada pelo facto do logotipo actual ser uma versão melhorada da que foi criada em 1994, tendo melhorado as formas que sugerem metades de pão onde foi ajustado o de cima para que criasseum contraste ideal com a forma de baixo permitindo uma harmonia com o tipo Burger King.

Também nota-se a preocupação em transmitir uma nova personalidade para a marca através das ilustrações que foram intencionalmente criadas para dar uma ideia orgânica.

A equipe JKR provou-nos que, com o design é possível comunicar ao público a essência de uma empresa de forma concisa sem perder a sua história. Como dizia o grande Otl aircher “Um design original requer o compromisso total de todos os envolvidos”, e só assim ela se manterá consistente e responderá aos desafios impostos pelo mercado.

Aboubakar Bin

Aboubakar Bin é designer gráfico, pesquisa e escreve conteúdos relacionados a design gráfico, natural de Maputo. Estudante de licenciatura em design no ISArC. É fundador do podcast Design informa.

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