Design e educação em Moçambique: Propostas de soluções em época de COVID-19
Nos finais de 2019 e início de 2020, teve início um evento global inesperado a COVID 19, uma ameaça que traria consigo desafios complexos em vários sectores: social, económico, cultural, mas também no campo da educação, afectando grandemente os processos de ensino e aprendizagem nas instituições de ensino em Moçambique.
Segundo os levantamentos de dados feito pelo Banco Mundial, UNICEF e a UNESCO, publicado a 26 de Março de 2020, no mundo mais de 160 países ficaram sem aulas nas modalidades do ensino presencial, o que contabiliza 87% de estudantes no mundo.
O mesmo resultado de levantamento de dados apresentado pela UNESCO mostra que 1,5 bilhões de estudantes no mundo e mais de 8 milhões de estudantes de 1º ao 12º ano de escolaridade ficaram sem estudos presenciais em Moçambique, o que motivou para mudanças drásticas, dentre elas a substituição das aulas presenciais pelo ensino remoto.
Educação em Moçambique versos COVID-19
A 17 de Março de 2020 o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) publicou um relatório com medidas a serem aplicadas no âmbito da pandemia nas instituições de ensino, com o intuito de contornar o crescimento de infecções nestes locais. No dia 20 do mesmo mês, o Presidente da República de Moçambique anunciou uma directiva, em que orientava o encerramento das escolas públicas e privadas, do pré-escolar ao nível superior, afectando assim os cerca de 8,5 milhões de estudantes.
O encerramento das escolas e universidades, conduziu pela primeira vez, à implementação do ensino remoto em Moçambique, o que, como pode se constatar foi e continua a ser um grande desafio, para quase todos subsistemas do ensino e todos intervenientes.
Em Moçambique o ensino a distância é uma das modalidades que se pratica há anos pelas universidades de ensino superior e ensino médio, com ajuda de plataformas tecnológicas usadas para dar continuidade a esse processo, alguns dos quais: Skype, Google aulas, Colibri, bibliotecas e outros criados pelas próprias instituições de ensino, dando ao aluno a oportunidade de fazer o seu horário e estudar a qualquer momento e em qualquer lugar. E entretanto, o ensino remoto foi uma solução imediata e pontual, tomada para responder à situação do actual estado em que o País e o mundo se encontram, e consiste na transmissão de aulas ao vivo através de plataformas digitais.
O ensino remoto traz diversos debates:
• Primeiro, por ser no momento a única solução para os alunos e professores, o que de certa forma causa um grande impacto em relação aos alunos e professores sem acesso a internet, aparelhos e com problemas complexos no uso ou manuseio das plataformas de mediação das aulas;
• O segundo aspecto é a falta de material didáctico para o ensino remoto e a dificuldade de gerenciamento de conteúdos e aproveitamento pedagógico, o que as ferramentas que propõem a servir como mediação de aulas não apresentam;
• E por fim a incerteza que surge sobre o futuro em relação ao regresso das aulas presenciais. No dia 03 de Março de 2021 o Presidente da República de Moçambique anunciou a volta das actividades desportivas e o retorno das aulas presenciais. A incerteza e as dúvidas norteiam nas decisões tomadas, porquê algumas escolas do ensino médio e instituições superiores ainda, carecem de saneamento básicos de higiene e sanitização e as medidas traçadas do distanciamento social como uso de máscaras e álcool dificilmente são cumpridas.
Design: pensando em possíveis propostas
A realidade é que não se sabe quando a pandemia será contida por completo, não se sabe se realmente a decisão tomada para o regresso aulas presenciais é a mais acertada neste momento, porém, algo sabemos, o ensino e aprendizagem precisam reinventar-se continuamente, o que abre possibilidades para que o ensino remoto torne-se a longo prazo uma modalidade por se adaptar em Moçambique, ou então tê-la como uma alternativa, quando criadas as condições que implicam treinamento e ferramentas adequadas.
O design tem um papel importante, de traçar possíveis soluções para efectuação da mudança cultural seja em qualquer sector, permite também explorar novos problemas com novas soluções, ou soluções que se baseiam em referências pré-existentes e desde sempre ao longo da história, o design mostrou-se ser importante para encontrar um, ou vários caminhos para ultrapassar os desafios de cada época, daí, acredito que nestes tempos, é importante também, que em Moçambique os designers proponham ideias próprias e originais, que ajudem a resolver ou a minimizar os desafios impostos pela pandemia no sector da educação.
Design é um campo profissional e científico com várias áreas de actuação, o que possibilita uma grande contribuição na resolução dos problemas causados pela COVID-19, também no sector da educação.
Design de comunicação
Um dos problemas em causa é a interacção entre alunos e professores, que as plataformas digitais não conseguem sanar na sua totalidade, como a complexidade das interfaces de comunicação, a falta de flexibilidade na comunicação auditiva e incapacidade de determinados aparelhos suportarem a adesão dessas plataformas. Melhorar o ritual de uso entre os usuários e as plataformas ajuda a estabelecer e melhorar a experiência e qualidade de vida dos alunos e professores, mas também criar melhor ambiente de ensino, do lado do professor e abre possibilidade de melhor aprendizagem, do lado aluno.
Design de produto
Os designers podem criar soluções sustentáveis localmente para escolas criando projectos para saneamento básico afim das aulas presenciais serem seguras nas zonas mais recônditas, mas também nas zonas urbanas e sub-urbanas.
Cases
Primeiro case: Reutilização de garrafas
Neste “case” reparamos que as garrafas “pet” são óptimas aliadas para desenvolvimentos de ideias sustentáveis, primeiro por ter um custo acessível e por serem excessivamente consumidas e queridas pelas cadeias de produção, elas são 100% recicláveis o que possibilita aumento do seu ciclo de vida dando várias utilidades. Nesta imagem podemos ver que ela serve de um recipiente que contêm água para saneamento, como estratégia para substituir os sistemas normais de saneamento hidráulico.
Também reduz o consumo excessivo de água, fazendo com que haja melhor gestão deste em locais onde existe escassez do líquido.
Segundo case: Máscara relaxadora
Funzamof Design é uma empresa moçambicana do ramo ecológico, tecnológico e design. Foi fundada em 2011 com objectivo de reciclar materiais electrónicos, em 2014 passou a actuar no ramo da moda, actuando na área de restauração de calçados, 2018 com mais conhecimento, associaram o design como uma ferramenta principal, para seus futuros projectos, com intuito de resolver problemas emergentes e locais. A empresa criou um projecto focado no desenvolvimento de máscaras confortáveis e sustentáveis. Este projecto veio solucionar os diversos problemas causados pelas máscaras comuns, o desconforto que causa devido a pressão dos elásticos nas orelhas.
Notas finais
Melhorar a interacção e a experiência do usuário nas plataformas educativas, criadas com fim exclusivo de proporcionar uma educação remota, através do design mostra como é que, este pode dar uma contribuição real quando não é possível ter aulas presenciais. Do mesmo modo que em aulas presenciais é preciso criar o ambiente ideal para se poder ter aulas e ter bons resultados, o mesmo é importante em ambientes virtuais de aprendizagem. Os alunos e professores, como usuários das plataformas, sendo pessoas leigas em design, podem não saber especificar a ausência ou a implementação incorrecta do design, mas eles sentem os efeitos e também podem ter resultados melhores se a solução for criada a olhar não apenas para questões funcionais, mas com a preocupação no ambiente que intermediara a relação aluno-professor.
Garantir que os alunos e professores tenham acesso mínimo de serviços básicos de saneamento é uma resposta ideal para o combate a pandemia. Por meio do design é possível melhorar o espaço físico a pensar na realidade local a fim de criar possibilidades de inclusão para instituições de ensino com escassez de saneamento básico, assim diminuindo as incertezas que surgem por falta de segurança que existem nos espaços físicos que são as escolas, garantido assim a retomada segura das aulas presenciais.
Fontes:
MINEDH-Programa de educação em emergência 2020-2021 – Abril 2020;