InsusTEMPOabilidade do Design
Designar é sempre um caminho para alcançar novos desafios; nesse trajecto o primeiro objectivo é o de fazer nascer uma ideia, a partir de uma nuvem que paira na nossa mente, o segundo construir sentido. Em ambos, o desígnio toma a forma de comunicação e afigura-se sempre bom (ninguém espera que o design seja mau/ardilhoso).
É impossível não ser designador criativo, isto é, é impossível não ter ideias novas e úteis; o que é possível é não dominar as tecnologias e meios para fazer nascer aquilo que faz naturalmente parte do ser humano, uma ideia. Todos idealizamos, mas somente alguns têm faculdades para edificar esses sentidos amorfos.
A primeira intenção é sempre muito intuitiva, e a de arranjar uma solução para um problema, essa reconhece-se, claro, humana. Alguns mestres, dantes e agora, haviam aprendido a lidar com as ferramentas necessárias para gerar o tal artifício criativo que resolvia o problema, mas actualmente os artesãos têm nomes diferentes e são mais preocupados com a reprodução industrial que com a produção única e a feitio.
A passagem das peças únicas às reprodutíveis não altera o sentido do design enquanto ideia tornada real, apta, com sentido e significado. (Só lhe rouba a aura, a unicidade, diria o Walter Benjamin na “Aura da Arte na era da Reprodutibilidade técnica”.)
Como sou da área da moda e do design de moda, talvez possamos assinalar exemplos práticos do que acima referi.
A roupa é um habitáculo móvel, com as paredes pintadas vergadas à vontade do seu habitante, aquele que tem a ideia de gosto próprio, eficaz e diferente, mas não demasiado diferente, para que o incluam num grupo específico. Aqui ficam desde já salientes os objetivos iniciais, do nascimento de uma ideia – neste caso de um “eu” – com efeito de sentido e comunicação – tornar comum, dizer aos outros quem tal pessoa é/quer ser. E desde quando estas formas de auto-representação são parte integrante do vestuário? No limite desde sempre. Os caçadores mais astutos ficavam com as peles dos animais mais ferozes; na comunidade, eram os líderes na força/aptidão.
Actualmente, e no que respeita à indústria do sector têxtil e do vestuário, não falamos mais nos homens das peles ou dos animais ferozes, aqui os ferozes são os concorrentes e o próprio mercado de consumo. Os clientes estão cada vez mais informados e têm acesso ao que acontece, quase in loco, nos desfiles e os designers de moda industriais têm que se mostrar astutos e criativos – em simultâneo - para responder a esta procura feroz dos consumidores.
Aqui vem o alerta da pressão do tempo para a criação/criatividade. Já todos tentámos fazer algo, e já sentimos a pressão do tempo, o assunto é urgente e insustempoável.
Por exemplo, o artista, o Charles Frederick Worth, que inventou a Alta Costura e a Etiqueta, tinha tempo para reflectir e procurar formas de traduzir as suas nuvens, em artigos de roupa. Hoje isto é mais raro, e por isso um luxo.
Para que o design possa ser bom, há que pensar, e isso é um dos assuntos mais urgentes nos dias que vivemos.
Há urgência em pensar para criar de forma sustempoável.