Problemas de design versus soluções subjectivas

Soluções de design são partes de outros problemas de design. - Bryan Lawson

 

Estou cada vez mais convicto sobre o facto de o papel do design ser o de criar, ou ao menos especular sobre o futuro, e essa responsabilidade, como podem imaginar cabe ao próprio designer, pelo menos no que diz respeito ao seu campo profissional. A questão sobre o futuro é demasiado complexa porque (até onde sei) a humanidade ainda (até hoje) não construiu de facto uma máquina que nos leve a viajar no tempo, de modo que seria fácil visualizar a resposta certa para um problema de hoje.

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Acho interessante esta convicção sobre construir o futuro, porque ela exige que se pense sobre o passado, mas também sobre o presente, uma tarefa que, não deveria ser afastada em nenhuma parte do trabalho do designer, independentemente do segmento em que actua. Sobre a questão do futuro, não pareço insolado em deserto, já que temos, por exemplo LAWSON (2005) a afirmar que:

 

“A própria essência do seu trabalho (o designer) é criar o futuro, ou pelo menos algumas características disso. Este é, obviamente, um negócio bastante perigoso, e traz consigo pelo menos duas maneiras de ser impopular. Primeiro, o novo muitas vezes parece estranho e, portanto, para algumas pessoas pelo menos inquietantes e ameaçadoras. Segundo, é claro, o designer pode se revelar errado sobre o futuro. É muito fácil com esse maravilhoso benefício de retrospectiva ver falhas de design.”

 

Penso que, a existem duas coisas que estimulam os cérebros de designers; a primeira é esta convicção de estar a criar algo que seja novo, algo que sob todos os riscos trás consigo boas promessas e perspectivas; a segunda é a chance de testar-falhar-acertar-comprovar-corrigir, parte de todo processo de criação e das coisas mais estimulantes, porque aí é possível descobrir que para um problema não existe apenas uma maneira de solucionar.

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Interpretação subjectiva dos problemas de design

Consideremos uma situação em que um problema é apresentado a uma equipa de designers. Apenas uma pessoa apresenta o problema, e, como se pode imaginar a apresentação, naquele instante é feita da mesma maneira para todos eles, já que estão ali. Se considerarmos que eles trabalham em soluções de forma separada, é praticamente improvável que eles tragam à mesa as mesmas soluções, já que a estrutura de pensamento, a experiência, as influências que cada um tem são importantes na obtenção do resultado, a interpretação desse problema é subjectivo, porque a solução não depende apenas do problema, mas também da experiência pessoal de cada profissional envolvido.

Esquema elaborado pelo autor

Esquema elaborado pelo autor

A subjectividade na interpretação dos problemas de design é importante, na medida em que nos aproxima de ter a solução que vá de encontro ao futuro e talvez tenha a sua melhor tradução, ou então que cada uma delas tenha um detalhe que pode ser melhor explorado colectivamente.  “Nesse sentido, os problemas de design, como suas soluções, continuam sendo uma questão de percepção subjectiva” (LAWSON: 2005), de cada profissional que esteja envolvido na processo criativo da solução em relação a questão inicialmente apresentada.

 

Não há métodos estabelecidos para decidir quais são as soluções boas ou más, e ainda o melhor teste da maioria dos projetos é esperar e ver como ele funciona na prática. As soluções de design nunca podem ser perfeitas e muitas vezes são mais facilmente criticadas do que as criadas, e os designers devem aceitar que, quase sempre, parecerão erroneamente equivocados para algumas pessoas. (Idem)

 

Nesse sentido, a interpretação dos problemas de design está ligada a características pessoais, ao histórico individual, aos lugares e ambientes frequentados, ao tipo de música que escuta e o tipo de filme que mais frequentemente acompanha. Apesar de o designer ter consciência de que a solução deve ser a mais impessoal possível, não significa que as suas preferências por um determinado estilo não sejam convocados no momento de gerar uma solução, o seu próprio cérebro, influenciado pela experiência que tem, já aprova e reprova determinadas propostas. “Isto também significa que os designers interpretam o problema de acordo com o seu repertório pessoal de cultura, intelectualidade e tecnicidade para estruturá-lo.” GUIDALI (2012).

 

Referências:

LAWSON, Bryan, How Designers Think: The design process demystified, 2005

WEINSCHENK, Susan, 100 Things every designer needs to know about people, Pearson Education, 2011, EUA

Mélio Tinga

Mélio Tinga é designer de comunicação, escritor e professor. Editor-chefe da DEZAINE, co-fundador e director executivo da DESIGN Talk e da DEZAINE Conference. É formado em Educação Visual pela Universidade Pedagógica.

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