Fazer o bem ou o mal importa em design?

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Por muito tempo as pesquisas psicológicas mostraram que as pessoas, por natureza, valorizam a honestidade, a moralidade, o fazer bem, a boa-imagem (pelo menos a pública). Grande parte das pessoas são criadas e educadas em ambientes que lhes permite diferenciar o bem do mal, o certo do errado, e durante toda vida precisam fazer escolhas recorrentes, tendo como alicerces aquilo que consideram algo bom, honesto e moralmente aceite.

O designer que trabalha na comunicação visual está, quase todos dias empenhado em projectos de empresas, de produtos, de serviços de categorias diferentes e com objectivos diversos e que não é ele quem no final toma as decisões. Ele funciona apenas como um veículo, uma ponte para se chegar a um lugar, e um desses lugares, e na maior parte das vezes é o lucro. Não se trata de apontar o lucro como algo imoral ou pecaminoso, já que o crescimento das sociedades também depende da circulação de dinheiro, o pagamento das contas de profissionais, em diferentes escalas está refém deste, os investimentos em diferentes sectores são feitos tendo como ferramenta o dinheiro.

A questão principal aqui é, como os designers se portam quando estão diante de algo que atropela uma base moral e ética e que, pode ser prejudicial ao outro? Os projectos de comunicação não portam uma assinatura do seu autor, daí, muitas das vezes não saberemos quem e porquê se envolveu em um trabalho específico que pode ferir que pode transgredir os valores que o profissional constitui ao longo do tempo. A outra questão que é importante é até onde é que a moral pode interferir em um projecto de comunicação e se é relevante colocá-la adiante.

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Pensar sobre os anúncios que exploram o corpo feminino, os que promovem o consumo do cigarro, os que insultam uma classe a favor de outra, os que aparecem nos ecrãs de adolescentes expondo conteúdos impróprios a esta faixa etária, pode ser um ponto de partida para reflectir sobre as intervenções do designer. E é preciso deixar claro que não pretendo julgar, condenar, indicar o que é certo ou errado, mas apenas questionar e contribuir para uma reflexão tão raramente feita.

É verdade que os designers com mais dificuldades económicas se tornam mais dependentes de seus clientes, e por via disso acabam por se envolver em trabalho apenas por razões económicas, já que a moral é incapaz de pagar as contas. Mas isso não quer dizer que os designers mais estabelecidos não criem este tipo de trabalho, o facto é que os com maior dificuldade económica não pensam duas vezes antes de avançar e precisam suportar maior pressão do que os outros.

O modo como a própria disciplina (design gráfico) está a ser direcionada, não é para pensar seriamente sobre a moral e a ética, sobre os valores sociais do modo mais profundo, já que durante a própria formação isso não se reflecte e portanto, cabendo a cada um pensar e decidir sobre que tipo de trabalho quer desenvolver, e é sobre isso que Brian La Rossa em um longo artigo sobre ética afirma que:

“A cultura do design gráfico não está actualmente estruturada para priorizar e promover a conduta ética”.

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É verdade que a ideia dos princípios em design não é muito discutida, e também há pouco escrito a respeito deste assunto. Provavelmente isso seja irrelevante, ou ainda não fomos capazes de reflectir seriamente sobre como isso pode ou não ajudar a constituir uma sociedade e culturas sãs. São raros os currículos que contém um segmento para pensar nestas questões durante a formação do designer. As ideias do conhecimento técnico, da pesquisa, da resolução do problema, parecem ser dos alicerces mais relevantes e inclusive únicos. Resolver um problema de design de olhos fechados, pode, em uns contextos significar arrombar a porta dos valores de um grupo social, mas também pode significar promover um produto que a longo prazo vai envenenando as pessoas, daí ser importante que o designer não tome decisões ingénuas quando precisa pôr nos olhos das pessoas alguma coisa que altera a sua estrutura de pensamento e a crença sobre os ideais da conduta

Olá, Mundo!

Mélio Tinga

Mélio Tinga é designer de comunicação, escritor e professor. Editor-chefe da DEZAINE, co-fundador e director executivo da DESIGN Talk e da DEZAINE Conference. É formado em Educação Visual pela Universidade Pedagógica.

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