Psicologia das cores como fundamento para linguagem visual

Para se falar da psicologia das cores e os atributos que elas oferecem a linguagem visual, é necessário falarmos um pouco sobre Goethe e suas pesquisas em relação as cores, devemos compreender de onde surge a epistemologia da teoria das cores na perspectiva humana.

O conceito sistematizado da teoria das cores foi cunhado pelo escritor, poeta e cientista naturalista Johann Wolfgang von Goethe, durante a sua estadia em Roma, onde ele descobriu o seu amor pela cor através das obras de artes criadas por artistas romanos, na sua tentativa fracassada de descobrir como nasciam as sombras de cores nas obras dos artistas não tendo nenhuma resposta ele iniciou as suas pesquisas, o que resultaria na sua obra “Teoria das Cores”, publicada em 1810, como forma de compreender as reacções que as cores causam na percepção humana.

Imagem: Wikipedia (circulo cromático pintado por Goethe)

Imagem: Wikipedia (circulo cromático pintado por Goethe)

A visão de Goethe sobre a teoria das cores, provocou uma controvérsia no campo científico porque as suas ideias confrontavam a ideia de Newton. Este compreendia que as cores é um fenómeno puramente físico, envolvendo a luz que atinge o objecto e penetra nos nossos olhos, como qualquer cientista matemático, a ideia da cor só poderia ser explicado através de métodos de investigação reforçado na matemática.

“A Física moderna não tem ainda um conceito legítimo para a Luz. Ela conhece somente luzes especificadas, cores que em determinada mistura provocam a impressão do branco. Mas este “branco” não pode ser identificado com a Luz em si. Branco não é nada mais do que uma cor de mistura. A moderna Física não conhece a “Luz” no sentido goetheano. Tampouco conhece a “Escuridão”. A doutrina das cores de Goethe movimenta-se em um domínio que não é tocado pelas determinações conceituais dos físicos. A Física não conhece os conceitos básicos da doutrina das cores de Goethe. E não pode, absolutamente, emitir um julgamento para esta teoria. Pois Goethe começa lá, onde a física acaba”. (Rudolf Steiner)

 

Goethe compreendia a cor não só numa perspectiva da matemática, mas era muito mais que um produto do fenómeno físico. Concebeu a ideia de que as sensações de cores que surgem em nossa mente são também moldadas pela nossa percepção – pelos mecanismos da visão e pela maneira como nosso cérebro processa tais informações.

“As cores são actos e padeceres da luz”. (Goethe)

Imagem: Santhatela ( A manhã do dilúvio)

Imagem: Santhatela ( A manhã do dilúvio)

Nos anos seguintes Goethe sistematizou alguns fundamentos sobre afirmações da natureza das cores como contributo para a óptica:

Cores fisiológicas - Goethe compreende que as cores se relacionam com o interior de cada indivíduo. São as cores produzidas exclusivamente por condicionantes fisiológicas, internas no ser humano. Estas cores pertencem ao subjectivo e têm uma existência fugaz. Porém, apresentam-se para indivíduos diferentes com as mesmas disposições, as mesmas ordenações.

 

Cores físicas - Goethe compreende que essas cores podem se designar cores atmosféricas como céu, arco-íris, dos fenómenos prismáticos. Trata das cores e dos fenómenos cromáticos que tem um ciclo de vida douradora e desta forma que chega a ideia do seu círculo de cores

 

Cores químicas - são cores com aspecto químico, ou seja, cores com características de materiais, como parte da estrutura interna, a cor que esta inserida ao material.

 

Perspectiva geral das relações internas – ele compreende que existe processo de formação e inter-relacionamento das cores e mostra esse processo. Seu surgimento, energia, determinação, mistura, intensificação, totalidade e harmonia do fenómeno cromático. Metamorfoses da cor.

 

Afinidade da teoria das cores com outras disciplinas - Goethe acreditava que a teoria das cores traria vários contributos para diversos campos das actividades profissionais e do conhecimento humano.

 

Efeitos sensíveis morais- neste conceito Goethe entende que as cores tem um caracter objectivo e na actuação da percepção humana ou alma humana, que só mais tarde é considerada pela psicologia das cores e teriam uma aplicabilidade estabelecida nas áreas das artes, design, arquitectura e propaganda.

As pesquisas de Goethe sobre os estudos da cor, fascinou vários cientistas, alem de ter o fascínio dos cientistas, os artistas que lidavam com as cores no seu tempo se sentiram mais atraído pela proposta de Goethe em relação a proposta de Newton. E é aplicado em varias áreas como arquitectura, design e psicologia.

Imagem: decoração de interiores

Imagem: decoração de interiores

Uma vez compreendido o processo da construção da cor não apenas como um fenómeno físico, mas como uma “coisa” que é extremamente vital da natureza e da alma humana.

Embora a teoria de Goethe tenha sido rejeitada e pouco divulgado, no campo das artes exerceu muita influência, o seu questionamento serviam de base para muitos artistas, uma vez que o seu pensamento estava à frente da sua época. Com o contributo do seu trabalho e de trabalhos de vários cientistas (Michel Eugéne Chevreul, Hermann Gunter Grassmann) inspirados pela obra de Goethe, muitos artistas sentiram-se encorajados para explorar e criar varias possibilidades de cores, o que contribuiu com o surgimento de vários movimentos de vanguarda como impressionismo, neo-impressionismo e entre outros.

 

Importância da Psicologia das Cores no design

Psicologia das Cores nada mais que um estudo profundo sobre o significado das cores e as sensações que elas despertam na percepção humana, tendo em conta o seu repertório.

As cores têm um caracter próprio, além disso, elas quando bem aplicadas de acordo com o seu carácter tornam-se responsáveis pela mudança de humor.

As cores, dependendo do contexto cultural, elas podem ter significados diferentes em cada contexto, o que pode significar como um fundamento de pertencimento cultural e particular, mas agora convém destacar a importância dos estudos da cor em design.

Na criação de interiores, as cores não estão somente lá por uma questão estética no sentido da busca pelo belo, mas também carregam e transmitem varias sensações, como dimensão, peso, emoção, temperatura e iluminação em um determinado ambiente de um espaço que o cérebro humano decodifica para o indivíduo essa informação.

Imagem: forMobile digital

Imagem: forMobile digital

Como podemos notar, nesta imagem, o azul quando bem aplicado, pode transmitir tranquilidade responsabilidade e simplicidade, estes são alguns dos atributos da cor azul para coloração de um ambiente, como uma sala de organização, escritórios em casa, etc.

Ainda na mesma imagem temos uma outra cor em destaque que é amarelo, a cor em si deve ser usada não de forma excessiva, neste caso a cor tem atributos relacionados a energia e estimula o raciocínio lógico, o uso abusivo dessa cor pode despertar ansiedade e estresse.

O mesmo conceito de aplicação das cores, pode ser usado no design de produtos e comunicação, na criação de embalagens, as cores estão la, mexem com o repertório do cliente de forma a atrair atenção e cativar o consumidor a adquirir o produto.

Imagem: ciclovivo

Imagem: ciclovivo

A cor verde, é uma cor que transmite tranquilidade, equilíbrio e harmonia, esses atributos facilmente são associados a natureza, geralmente verde é usado para destacar o atributo de sustentabilidade que frequentemente é aplicado nas embalagens que tem um ciclo de vida ampliado e que são mais sustentáveis devido ao seu material.

Para o design, as cores para além das formas são fundamentos que colaboram primeiramente na criação de um produto seja tangível e intangível, elas dão vida a um logotipo, através das cores elas ajudam a compor um conceito desejado na concepção de uma identidade de visual.

Imagem: pinterest

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Nilza Dánia da Conceição Ráma

Nilza Dánia da Conceição Ráma é licenciada em Design pelo Instituto Superior de Artes e Cultura - ISArC.

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