Referência no Design Gráfico: Como Praticar de Maneira Certa?

A necessidade de reflexão deste tema surge no âmbito do suposto “plágio” que ocorreu no novo logótipo da Seleção Moçambicana de Futebol, onde alegadamente o designer não apenas se referenciou num outro logótipo para criar o da Seleção Moçambicana de Futebol, mas também terá copiado a referência originando assim um suposto “plágio” que  chamou-me atenção como estudante de design, mas também a grande comunidade de designers moçambicanos sobre o cuidado no momento da criação de projectos para evitar cometer um plágio enquanto utilizamos referências. Mas como usar a referência de Maneira certa? Essa é a grande questão desta reflexão. 

O objectivo desta reflexão é definir como podemos usar a referência na área do design gráfico de maneira certa. Mas para chegar a esse objectivo iremos:

a)    Definir e indicar as diferenças entre a referência e o plágio;

b)    Desenvolver uma análise de projectos gráficos originais e plagiados.

No decorrer da pesquisa nos deparamos com uma falta considerável de bibliografia sobretudo nacional. Então, buscamos conteúdos em artigos, documentários, livros, e em diversas fontes que servirão como embasamento teórico para o este estudo.

Referência como área do conhecimento

Na criação de um projecto de design gráfico torna-se necessário a utilização de fontes de inspiração e referências de forma a ter-se uma visão do que está a ser praticado num dado segmento, e desta forma, a partir destas análises esboçar uma ideia nova e criativa. Entretanto o designer precisa saber até onde pode ir com essas referências e inspirações para que não venha a surgir um plágio no decorrer da criação de qualquer projecto gráfico.

 

Referência

São muitas as definições existentes para esta palavra nos dicionários. Entretanto segundo Priberam, significa:

Ação de referir, Coisa referida, Menção, registo, Ponto de contacto ou relação que uma coisa tem com outra, Conjunto de qualidades ou características tomado como modelo, Alusão, Código, inscrição ou marca que permite identificar um processo, um documento, uma encomenda, um objecto, etc. Encaminhamento para um atendimento ou seguimento especializado ou para outro nível de cuidados (ex.: processo de referência; sistema de referência hospitalar). = REFERENCIAÇÃO. (PRIBERAM, 2008-2021).

Quando observamos a palavra referência na área do design gráfico especialmente notamos poucas definições e aplicações que possivelmente dificultam a compreensão do designer no concernente a esse assunto.  Porém a definição do dicionário Priberam deixa bem claro que o acto da referenciação ou de se inspirar configura um conjunto de qualidades ou características tomadas como modelo para a criação de algo novo e não da cópia do mesmo. Desta forma podemos concluir que referências devem ser utilizadas com bastante cautela, para que não sejam caracterizadas como uma cópia.

Existem várias conclusões que derivam dessa definição que poderíamos explanar neste estudo. Todavia MISSENA vai mais além no concernente a esse assunto ao concluir que:

Então, podemos entender que, no design, a referência convém em o designer tomar como fonte de inspiração um determinado projeto, sem que precise necessariamente mencionar o projeto ou autor que foi utilizado. Mas para isso, elementos principais da composição de objetos, imagens ou qualquer outra coisa no qual se está querendo fazer referência, não devem ser absorvidos no novo projeto, tais como: formas, cores, texturas, diagramação, enquadramento, etc. (MISSENA, 2016, p.14)

Podemos observar então segundo MISSENA que a inspiração no Design Gráfico não pode absorver elementos principais do projecto que tomamos como referência. No entanto em contrapartida, contrariando essa afirmação (SEBASTIANY) afirma que:

A adoção de um símbolo original e distintivo pode ser parte da solução, porém novamente sua criação não pode ser apenas "estética' A originalidade nestes casos deve sempre ser estabelecida frente ao tema do segmento. (SEBASTIANY)

Diante destas definições, afirmações e contradições no concernente a referenciação ou inspiração na área do design gráfico, com vista a esboçar uma conclusão podemos afirmar que o designer tem que procurar formas de incutir ou agregar conceitos originais, com o propósito de não comprometer os seus projectos.

É certo que eventualmente de maneira proposital ou não, podemos absorver formas, cores, entre outros elementos do projecto ou dos projectos em que usamos como referência ou inspiração. No entanto, esses elementos não podem estar em maior evidência em relação aos conceitos e aos elementos diferenciais originais do projecto em criação. Desta forma pretendemos afirmar que todo projecto em formação ou já existente na área do design gráfico moçambicano detém uma particularidade, um diferencial, uma originalidade que o distingue de outros projectos, e é esse diferencial que deve estar em maior evidência para que haja distinção dos outros.

Para exemplificar, a seguir, citarei alguns exemplos que servem como demonstrações de projetos utilizando referências.

Um dos exemplos é o estúdio bielorusso Fajno Design, que desenvolveu conceitos interessantes de produtos para mobiliário e decoração inspirados em animais. primeiro deles é a DogChair, uma proposta inserida no contexto das crianças. Brincando com a estrutura que sustenta o banco, que sugere as patas de um cachorro, os designers expressaram uma poética lúdica para o produto, combinando elementos.

DogChair – Fonte: Design inspirado na natureza: do funcional ao emocional

Outro conceito do mesmo estúdio é o Catch, um conjunto (pendente e banqueta), o que produz uma estética de movimento e tenta figurar a captura de um evento da natureza, imprimindo um teor de escultura nos objectos.

Catch – Fonte: Design inspirado na natureza: do funcional ao emocional

Com os exemplos supracitados conseguimos perceber que é possível incutir e criar um projecto original com fontes de inspiração “fora da caixa” pois o estúdio bielorusso Fajno Design poderia se tratando da criação de mobiliários se referenciar em outros mobiliários, mais em vez disso, optou em se inspirar em animais e desta forma criar um design de mobiliários verdadeiramente criativo e diferente.

Esse é um dos métodos de criação de projectos que nós designers moçambicanos poderíamos aderir com objectivo de tornar os nossos projectos diferentes criativos e originais. 


Referências. Bibliográficas

GRILO, André. Design inspirado na natureza: do funcional ao emocional. Disponível em: https://andregrilo.medium.com/design-inspirado-na-natureza-do-funcional-ao-emocional-7e3afa8465ae, Acesso em: 28/07/2021

MISSENA, Angélica. O Limite de Separação Entre a Referência e o Plágio no Campo do Design Gráfico de Identidade Visual. Universidade Federal de Pernambuco Centro Acadêmico do Agreste Núcleo De Design, vol. 1, n. 1, 2016

MATTOS, Walter. Será que é plágio? Disponível em: https://waltermattos.com/artigos/sera-que-e-plagio/, Acesso em: ‎28 ‎de ‎julho ‎de ‎2021.

PRIBERAM, Dicionário. Significado de Referência, Disponível em: https://dicionario.priberam.org/referencia, Acesso em: 27-07-2021.

António José Langa

António José Langa, dedicou-se a formação em Design e Tecnologias das Artes Visuais pela Universidade Pedagógica de Maputo. Sempre em busca da próxima oportunidade de demonstrar o seu potencial criativo, recusando-se a se acomodar, trabalha para garantir que seus trabalhos sejam sempre inovadores, criativos e funcionais. Não importa o que aconteça, sempre encara cada projecto com total entusiasmo e dedicação.

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