Revolução verde: plástico transformado em arte sustentável

Actualmente a evolução do mundo da moda está a ser acompanhada pela emergência da sustentabilidade. A moda sustentável é um movimento que ganha uma força significativa pelo foco em minimizar o impacto negativo causado pela sociedade na gestão do meio ambiente.  

Esta vertente da moda, enquanto propõe alternativas para que o processo de confecção seja feito de forma menos prejudicial, mostra também, a importância de consumir os produtos de forma mais consciente. 

Pensar na conservação ambiental e buscar meios voltados à sustentabilidade, tem sido um grande desafio aos criadores desta área, que, muitas vezes, optam pela reciclagem do lixo para desenvolverem a inovação e criação artística. 

Dentre várias acções  que prejudicam o meio ambiente, a reciclagem de plástico é uma prática essencial no mundo contemporâneo, onde se observa uma grande  luta contra os impactos negativos associados ao plástico, um risco à saúde pública. 

O plástico leva em média 400 anos para se decompor, e liberta gases tóxicos que afectam o solo, a água e o ar, que por sua vez, comprometem a qualidade de vida no presente e das gerações vindouras. 

O seminário de avaliação de validação do estudo sobre o impacto do banimento do saco plástico, realizado no mês de Junho de 2022, avançou que cerca de 17 mil toneladas de resíduos plásticos produzidos anualmente em Moçambique acabam nos rios e oceanos.

Na cidade capital do país, Maputo, vivem mais de um milhão de habitantes que segundo a Direção Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos e Salubridade do Município, produzem, a cada dia, mais de 1.100 toneladas de resíduos sólidos, isso significa que, cada habitante da capital moçambicana produz um quilograma de lixo diariamente. 

A activista social e fundadora da marca Valor Green, Alice Pelembe, é pioneira de um projecto de reciclagem do plástico no país, com o objectivo consciencializar a sociedade a respeito da saúde ambiental e transformá-lo em produtos utilitários femininos no exercício da  sua actividade empreendedora. 

Com o compromisso que tem com sustentabilidade, Alice tem liderado uma iniciativa única que não apenas reduz o desperdício do plástico, mas também empodera mulheres através da criação de acessórios femininos como brincos, bolsas, anéis, carteiras, para além de bases de pratos para mesas, tapetes e bandeiras internacionais feitos com recurso ao plástico reciclado. 

A recicladora fala sobre a sua visão no processo de recolha de plástico; “O processo de reciclagem, iniciou em 2021, quando elaborei um projecto de criação artística, com o qual pretendia participar no concurso Prémio Jovem Criativo, uma iniciativa governamental que se realiza anualmente, em parceria com o movimento associativo juvenil, e a intenção foi sempre de reciclar sacolas plásticas com a finalidade de produzir diversos artigos úteis”. 

“Com este projecto, percebi que havia necessidade de conscientizar a população sobre os benefícios do sistema de colecta urbana do lixo e da prática da separação do material reciclável e não reciclável, como forma de economizar a quantidade de lixo e preservar o meio ambiente”, acrescentou.  

A implementação de uma lei que proíbe o uso das sacolas plásticas, é vista pela jovem criativa como uma das soluções de combate às agressões ambientais, “A nível do país, principalmente na cidade de Maputo, onde o plástico é mais utilizado devido à concentração urbana, acredito que a reciclagem do plástico é um assunto muito complicado, pois, ainda estamos na discussão da lei da proibição da sacola plástica.

“Penso que essa medida não é fácil, pois a sociedade já foi atribuída o compromisso do uso do plástico e a mesma, não tem noção da importância da reciclagem e reutilização de resíduos sólidos”. 

As mãos criadoras inovam e transformam o mundo 

A fundadora da Valor Green ressalta que o poder da transformação e gestão do meio ambiente é uma missão que deve ser levada a cabo pelos jovens, “Os jovens são chamados a serem criativos em relação a preservação do meio ambiente, no processo de reciclagem. Podemos obter diversos produtos, e está tudo relacionado àquilo que cada reciclador deseja abraçar, como é o caso de material doméstico ou realce de beleza. Eu, por exemplo, fui criativa em transformar o plástico em produtos femininos e para o uso doméstico, então é esta visão de transformação e criação que devemos ter”. 

Pelembe, não só abraçou um desafio de encontrar soluções inovadoras para o problema global do plástico, mas também, identificou uma maneira de garantir a consciência da reciclagem para as gerações vindouras, capacitando alunos nas escolas para fazerem parte desta missão ambiental.

“A geração futura não deve pagar pelos nossos erros! Há uma grande necessidade de transformar as nossas atitudes no bem-estar social e ambiental, para tal a Valor Green, abraçou o desafio de ensinar técnicas de reciclagem e transformação de resíduos sólidos em artigos de arte aos alunos das escolas primárias e secundárias a nível da cidade de Maputo. De Abril a Junho, alunos de 6a a 10a classes beneficiaram-se da educação ambiental do projecto Reciclagem e Criação Artística. É uma iniciativa que visa alargar a consciência da sustentabilidade das crianças, pois elas é que vão garantir e manter os ensinamentos, futuramente”. 

Alice acredita que o conhecimento transmitido às crianças é uma arma poderosa para a saúde ambiental e um passo dado à criatividade e transformação da sociedade. “É mais fácil transmitir o conhecimento a uma criança, principalmente quando se trata de questões ambientais, afinal de contas queremos educar o menino de hoje, para que não seja preciso repreender o adulto de amanhã, e as mesmas crianças desenvolverão o espírito de consciência ambiental e uma mente inovadora para a transformação dos resíduos sólidos em arte” frisou. 

Com o desenvolvimento do seu trabalho, Alice Pelembe, alega que um dos grandes desafios da sua marca é dar assistência aos agricultores de Maubo, distrito de Boane, província de Maputo, através de um sistema de regadio gota-à-gota a partir de garrafas plásticas recicladas. A empreendedora conta que “Os agricultores usam baldes de água para regar as suas machambas e, muitas vezes, a prática da irrigação é afectada pelo nível de água que vai diretamente ao solo, com isso, a Valor Green pretende dar  assistência na minimização do impacto do problema com a reciclagem de garrafas plásticas de dois litros que permitirão o uso racional da água”.  

Numa sociedade em que os efeitos da má gestão ambiental são cada vez mais graves, cada cidadão desempenha um papel importante na preservação do meio ambiente e, a reciclagem do plástico é uma maneira eficaz para garantir um ambiente limpo e saudável.