Sona (etnomatemática) elevada como Património Cultural Imaterial de Angola

A arte de contar história com desenhos geométricos na base da matemática (Lu) sona, uma herança cultural dos povos tchokwes (Quiocos em português), pertencentes as tribos bantu e localizados no nordeste de Angola (África central).

Os tchokwes são conhecidos por ser um povo que pratica actividades relacionadas a caça e artesanato (ornamentação de esteiras, cestos entrançados, trabalhos em ferro, cerâmicas e gravações de cabeças e tatuagens, até pinturas nas paredes das casas e desenhos na areia).

Imagem: Matemática é fácil

Imagem: Matemática é fácil

 

Esses desenhos são conhecidos como Sona (plural) ou lusona (singular) que são conjuntos de figuras geométricas que a população Tchokwe usava para contar histórias e para aprendizagem dos rapazes durante os ritos de iniciação, que eram transmitidos pelos akwa kuta sona ou seja, designados especialistas (aqueles que sabem transmitir aos seus filhos).

Que fazem parte de uma velha tradição, estes jogos eram praticados antigamente nos centros das aldeias ou no acampamento de caças em volta de árvores frondosas ou fogueiras através de histórias que eram ilustradas com desenhos na areia. Não somente histórias eram contadas através desses desenhos geométricos, como contos, fábulas, provérbios.

Imagem: Matemática Fácil

Imagem: Matemática Fácil

 Para se efectuar o sona, os tchokwes limpam e alisam o chão primeiro, de seguida marcam as pontas dos dedos, uma rede de pontos, cuidando para que estejam regularmente espaçados de acordo com o objectivo da história ou desenho. Em seguida, em volta dos pontos, traçam linhas rectas e curvas, tanto para a direita quanto para a esquerda, com uma inclinação de 45 graus, mantendo equidistantes dos pontos, servindo de base para a sua história. As linhas são sempre fechadas, traçadas sem o narrador levantar o dedo da areia, seguindo regras específicas de acordo com a tradição. Como vemos nestas imagens.

Imagem: Portal do professor.

Imagem: Portal do professor.

A lusona, carrega traços culturais e patrimoniais que simbolizam a matemática e geometria africana, alvo de pesquisas científicas e publicações em livros e artigos, ela foi elevada como um património cultural imaterial, uma vez que ela carrega uma relevância cultural para o povo angolano e os povos pertencentes a tribo bantu.

Esta iniciativa surge durante a conferência Internacional sobre Educação Matemática em Angola realizada em 2019, mais tarde com o conselho dos participantes da conferência, o ministério da cultura, turismo e ambiente junto com a Universidade Lueji A’Nkonde decidiram levar a cabo a elevação da Lusona como um património cultural imaterial no dia 20 de Abril de 2021.

O reitor da Universidade Lueji A’Nkonde, Carlos Yoba, considera de forma precisa a necessidade de inserção desta tradição cultural imaterial no ensino na área de matemática em Angola, porque garante um ensino multicultural.

Com esta iniciativa, sona servira no campo da matemática para ajudar os estudantes a fazer cálculos de todos tipos de níveis, o que ajudara na valorização desta tradição.

 

Algumas histórias contadas por meio do sona

A figura que está em cima é Deus, à esquerda está o Sol, à direita está a Lua e em baixo está um ser humano. Este lusona representa o caminho para Deus.

Imagem: Matemática é fácil

Imagem: Matemática é fácil

Um dia, o Sol foi visitar Deus. Deus deu um galo ao Sol e disse: “Volta cá amanhã de manhã antes de partires”. No dia seguinte de manhã, o galo cantou e acordou o Sol. Quando o Sol se apresentou diante de Deus, este disse-lhe: “Tu não comeste o galo que te dei para o jantar. Podes ficar com o galo, mas tens que regressar todos os dias.” É por isso que o Sol dá a volta à Terra e reaparece todas as manhãs.

 

A Lua também foi visitar Deus e recebeu um galo de presente. No dia seguinte de manhã, o galo cantou e acordou a Lua. Mais uma vez, Deus disse: “Tu não comeste o galo que te dei para o jantar. Podes ficar com o galo, mas tens que regressar a cada vinte e oito dias.” É por isso que o ciclo da Lua dura vinte e oito dias.

 

O ser humano também foi visitar Deus e recebeu um galo de presente. Mas o humano estava com fome depois de ter feito uma tão longa viagem e comeu parte do galo ao jantar. Na manhã seguinte, o Sol já ia alto no céu quando o humano acordou, comeu o resto do galo e apressou-se a visitar Deus. Deus disse-lhe: “Eu não ouvi o galo cantar esta manhã.” O humano respondeu-lhe a medo: “Eu estava com fome e comi-o.” “Está bem,” disse Deus, “mas escuta: tu sabes que o Sol e a Lua estiveram aqui, mas nenhum deles matou o galo que lhes dei. É por isso que eles nunca morrem. Mas tu mataste o teu, e por isso deves também morrer. Mas quando morreres deves regressar aqui”.

 

Imagem: O baricentro da mente

Imagem: O baricentro da mente

História da visita do galo ao Sol

O galo visitou o Sol. Outras aves tentaram, mas apenas o galo conseguiu. Ficaram amigos e ainda hoje o galo canta ao romper o Sol.

 

 Para acompanhar mais histórias sona clique aqui.

Nilza Dánia da Conceição Ráma

Nilza Dánia da Conceição Ráma é licenciada em Design pelo Instituto Superior de Artes e Cultura - ISArC.

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