Paradigmas do Design: do Designer Tradicional ao Designer do Futuro
Parte 1
Devido a mudanças constantes na sociedade e na área do design, a revisão dos paradigmas que vigoram na área torna-se imprescindível. Rever suas características e o modo de operar dos profissionais da área, através da análise do “design tradicional” e posterior exortação a mudança de paradigmas dos designers, para que se possa projectar o futuro do design, através do “design do futuro”.
Este tema surge motivado pela fase “embrionária” em que o design gráfico em Moçambique está a passar, onde a compreensão por parte da sociedade sobre o design gráfico considera-se escassa, pois mesmo os que eventualmente compreendem o que é design gráfico, têm se baseado no especto visual e não no processo em si de forma a chegar aquela solução como afirma (Juvêncio Gomes dos Santos 2020) “Porém, até este momento me parece que o estado cognitivo do design tem ainda se mantido coberto por um pano de dúvidas, pois somente se desenrola no domínio visual, intrinsecamente relacionado com a experiência estética e menos com o campo discursivo”.
Pretende-se através deste artigo contribuir para a comunidade científica, profissionais do design e para toda sociedade moçambicana, através dos resultados desta pesquisa que irão nos ajudar a compreender o “design tradicional” e seus paradigmas para que não passemos pelos mesmos problemas que sociedades com um design já estruturado passaram.
Designer gráfico tradicional
Segundo (Joshua Hoering 2020) “Ele é conhecido como alguém que trabalha com um conjunto específico de habilidades para alcançar um estado perfeito a partir de um briefing de design”. Para melhor elucidar elencamos dois exemplos de uma imagem panorâmica de designers tradicionais.
O logótipo de uma das mais famosas marcas de redes sociais do mundo o Twitter. O passarinho azul mais famoso do mundo surgiu a partir de uma simples imagem de banco de dados, ao preço de 15 dólares. O artista que a assinou, Simon Oxley, recebeu pouco mais de seis dólares pelo direito de uso. O logo foi sofrendo pequenos ajustes para criar sua versão mais recente, divulgada em 2011, porém a essência do logo original se manteve.
Em 1993, Steve Jobs teve a ideia de criar um logótipo para o seu empreendimento e para tal contratou o Designer Paul Rand por USS 100.000. “Jobs pediu para Rand criar vários logótipos, aos quais Rand respondeu:
“Não, vou resolver o seu problema e você vai me pagar. E você não precisa se preocupar! Se você quer opções, vá falar com outras pessoas! Mas vou resolver o seu problema da melhor maneira que eu sei, aí você vai escolher se usa ou não, isso depende de você, você é o cliente. Mas você me paga”. (Paul Rand - 1993)
Através destes exemplos conseguimos “visualizar os dois lados da moeda” onde de um lado temos o que reconhece o seu valor e o outro que não reconhece. Entretanto essa diferença também está no facto de um dos casos, exatamente no do logótipo da NeXT, ter envolvido uma colaboração directa com o cliente, denunciando assim o processo criativo que Rand estava a seguir, conseguimos perceber isso através da conversa supracitada. O que por ventura não houve no primeiro caso do logótipo da rede social Twitter. Porém graças a este processo o logótipo da NeXT é realmente um design brilhante. Ele exemplifica todas as quatro regras de design de Rand:
"Apresentação é a chave";
"O único mandato em design de logótipo é que ele seja distintivo, memorável e claro";
"Um logótipo tem significado a partir da qualidade daquilo que simboliza, e não o contrário";
"Simplicidade não é o objetivo. É o subproduto de uma boa ideia e de modestas expectativas".
Designer do futuro
Quando um cliente necessita da solução de um problema relacionado a design gráfico, ele contrata um designer gráfico para isso, entretanto segundo (Joshua Hoering 2020) “O designer gráfico do futuro parte do briefing do projecto para uma estratégia de pesquisa para investigar o mercado do cliente, as necessidades do usuário e traçar, um caminho para resolver esse o problema antes de criar qualquer coisa”. Além da definição do que eventualmente seria o design do futuro, Hoering vai mais além ao propor dez (10) mudanças de paradigmas para passar de um designer tradicional para o designer do futuro:
1. Descubra problemas antes de criar entregas.
2. Investigue as necessidades humanas com uma lousa em branco;
3. Seja excelente na colaboração;
4. Lidere o processo de Design Thinking;
5. Cobre do cliente por todo processo de design;
6. Utilize um modelo de precificação baseado em valor;
7. Negocie usando uma estrutura confiável;
8. Invista antecipadamente em empreendimentos de renda passiva;
9. Entregue um trabalho de qualidade de forma sustentável;
10. Avalie as necessidades dos clientes desde o início.
Podemos perceber então a diferença do design tradicional do design do futuro segundo Hoering e as suas respectivas propostas de mudança de paradigmas para que essa transformação ocorra. Todavia com uma definição diferente que deixa claro na sua ótica, a diferença do designer gráfico tradicional do designer actual e do futuro, esta (--) que afirma que:
“O que torna os designers que trabalham nesse nível diferentes dos designers tradicionais é que eles não estão mais tentando resolver os problemas fornecidos a eles na forma de um briefing de design – eles procuram evitar problemas que ocorram desenvolvendo eles próprios os briefings de design”. (She Ji: The Journal of Design, Economics, and Innovation - 2015)
Desta forma podemos então perceber opiniões diferentes sobre o que viria a ser o designer gráfico do futuro, onde (Joshua Hoering 2020) afirma que o designer parte do briefing do cliente e (She Ji: The Journal of Design, Economics, and Innovation - 2015) vai na contramão afirmando que o designer actual e do futuro desenvolvem os seus próprios briefings do design. Entretanto observamos uma similaridade quando os dois autores afirmam que o “Design Thinking” faz parte dessa transformação do designer tradicional ao designer do futuro. Essa afirmação surge quando (She Ji: The Journal of Design, Economics, and Innovation - 2015) fala que “Como resultado, na última década, testemunhamos um aumento de consultorias independentes de “design thinking”, seguindo por um novo interesse em estabelecer equipes de design corporativas internas”. Entretanto o que viria a ser “Design Thinking”? é o que iremos abordar na segunda parte deste artigo.