Design & Bolas de Fogo

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Alguma vez sentiram não entender como funcionava algum objecto? Qual a sua função? Também!

Eu, que sou designer há mais de 10 anos já senti que o projecto de alguém tinha sido criado dentro de um universo próprio e eu estaria fora dos limites do mundo do designer. Ainda que a minha formação e prática sejam no design de moda, há algo que é transversal, nomeadamente a preocupação com o utilizador/usuário.

Pensemos no produto não natural, trabalhado pela técnica e estética (design), como uma bola. O designer lança a bola, um artifício, um plano, um design ao mundo e é responsável pelos malefícios e benefícios causados pela bola gerada. Se for uma bola de picos, o receptor não será beneficiado, o mesmo acontece se for uma bola de fogo, pronta a queimar o utilizador sem que este entenda o porquê do designer ter escolhido o fogo para a composição da bola.  

Acima deixei escapar que o receptor da bola é o utilizador, é a ele que o designer lança o seu projecto (lança=desenvolve para). A bola é o produto, que pode não ser físico como o caso dos designers de plataformas digitais.

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 O designer é o arquitecto do artifício e da experiência da utilização, já que a própria forma “deve seguir a função” de acordo com o postulado pelo Frank Lloyd Wright.  E por isso é responsável.  

Esta questão pode ser resolvida? Não sei.  Sei apenas algumas coisas, e uma partilho:

Quando nós enviamos uma carta a alguém, devemos saber se o receptor sabe ler, e se sabe ler na língua que escrevemos. Caso contrário caímos no risco de estar a enviar uma carta cheia de picos, ou em fogo, impossível de ser benéfica para quem abre o envelope.

No processo do design, o designer deve conhecer o receptor, se ele sabe brincar com bolas de fogo ou se o material tem que ser outro, talvez macio, ou tecnológico, ou de outra índole.

Já há uns bons anos que se fala na preocupação com a experiência do utilizador, “user experience”, que é como quem diz, colocar o designer a brincar com a própria bola de fogo, para que ele consiga entender os limites do seu projecto/ design.

João Barata

João Barata, com 32 anos, é designer de moda há mais de dez anos. É Licenciado em Moda, tem um Mestrado em Design de Moda; atualmente um Doutoramento também em Design de Moda. É Professor Auxiliar na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias em Lisboa.

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