Quem foi Milton Glaser, o designer que amava NY

Era dia 26 de Junho de 2020, sexta-feira, no exacto dia do seu 91º aniversário, quando, vítima de acidente vascular cerebral e insuficiência renal, Milton Glaser, um dos nomes mais importantes do design mundial, perdeu a vida, em Nova Iorque. Decidimos então relembrar quem de facto foi Glaser e que legado deixou para o design e cultura do seu país, mas também de todo o mundo.

©Moisés Uqueio

Nascido a 26 de Junho de 1929, Milton Glaser foi um designer gráfico norte-americano que, praticamente mudou o vocabulário da cultura visual americana entre os anos 60 e 70. Popularmente é muito conhecido pelo seu cartaz de 1967 “Mad Men”, de Bob Dylan, mas também pela campanha I Love NY, praticamente conhecida em todo o mundo. Estudou na Cooper Union entre 1948 e 1951, tendo dado continuação na Academia de Belas Artes de Bolônia com o pintor Giorgio Morandi. Glaser foi fundador, presidente e director de design da revista New York até 1977. Dirigiu, por vinte anos (1954 -1974) o Push Pin Studios e posteriormente fundou o seu próprio estúdio.

É filho de Eugene e Eleanor (Bergman) Glaser, imigrantes da Hungria. Seu pai tinha uma lavanderia e uma alfaiataria, sua mãe era dona de casa. Quando Milton era criança, uma vez um primo mais velho desenhou um pássaro na lateral de um saco de papel para diverti-lo. “De repente, quase desmaiei ao perceber que você poderia criar a vida com um lápis”, disse ele à revista Inc. em 2014. “E, naquele momento, decidi que seria assim que passaria minha vida”.

Teve aulas de desenho com Raphael e Moses Soyer, os artistas socialistas realistas, antes de se matricular na High School of Music & Art em Manhattan. Depois de ser reprovado duas vezes no exame de admissão para o Pratt Institute, trabalhou em uma empresa de design de embalagens antes de ser aceite pela Cooper Union for the Advancement of Science and Art.

Enquanto estava na Cooper Union, junto de três colegas - Seymour Chwast, Edward Sorel e Reynold Ruffins - alugaram parte de um loft em Greenwich Village e criaram a Design Plus.

O trabalho de Milton Glaser foi reconhecido em todo mundo. Para o pôster de Dylan, uma peça promocional incluída no álbum "Bob Dylan's Greatest Hits" de 1967, por exemplo, ele criou um contorno simples da cabeça do cantor, com base em uma silhueta de autorretrato em preto e branco, acrescentou espessura, faixas onduladas de cores para o cabelo, formas que ele importou da arte islâmica. Quase seis milhões de pôsteres chegaram às casas das pessoas em todo o mundo. Reproduzida sem parar, a imagem tornou-se uma das assinaturas visuais da época.

Quase seis milhões de pôsteres de Bob Dylan, criado por Glaser chegaram às casas em todo o mundo.

“I ♥ NY”, seu logotipo para uma campanha de 1977 para promover o turismo no estado de Nova York, alcançou uma aceitação ainda maior. Esboçado no verso de um envelope com giz de cera vermelho durante uma corrida de táxi, estava impresso em letras pretas em uma fonte rechonchuda, com um coração vermelho-cereja representando a palavra "amor". Quase imediatamente, o logotipo se tornou um símbolo reconhecido da cidade de Nova York.

“Estou pasmo com o que aconteceu com esta pequena, nada simples de uma ideia”, disse Glaser ao The Village Voice, em 2011.

Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, as camisetas com o logotipo foram vendidas aos milhares, enquanto os visitantes da cidade as usavam como forma de expressar solidariedade. Glaser desenhou uma versão modificada - “I ♥ NY More Than Ever”, com uma contusão escura no coração - que foi distribuída como um pôster por toda a cidade e reproduzida na capa e no verso do The Daily News em 19 de setembro.

Casou-se com Shirley Girton, sua substituta na empresa de design de embalagens que o contratou pela primeira vez, em 1957. O casal colaborou nos livros infantis “If Apples Had Teeth” (1960), “The Alphazeds” (2003) e “The Big Race ”(2005).

Em 1983, com Walter Bernard, Glaser formou a WBMG, uma empresa de design de publicações que reformulou dezenas de jornais e revistas nos Estados Unidos e no exterior, incluindo The Washington Post e O Globo no Brasil. Mais tarde colaboraram na história de seu trabalho de design, “Mag Men: 50 Years of Making Magazines”.

No final da década de 1980, desenhou o logotipo da SIDA para a Organização Mundial da Saúde e o logotipo e a embalagem da Cervejaria Brooklyn, usando um B maiúsculo inspirado nos antigos Brooklyn Dodgers.

Glaser, cujos outros livros incluem “The Milton Glaser Poster Book” (1977), “Art Is Work” (2000) e “Drawing Is Thinking” (2008), leccionou por muitos anos na School of Visual Arts em Manhattan. Em 2008 foi tema do documentário “Milton Glaser: Informar e Deleitar”.

Em 2004 recebeu um prêmio pelo conjunto de sua obra do Cooper-Hewitt National Design Museum (agora Cooper Hewitt, Smithsonian Design Museum) e, em 2009, se tornou o primeiro designer gráfico a receber a National Medal of Arts.

Até sua morte em 26 de Junho de 2020, Glaser trabalhava em um projecto gráfico que representaria a ideia de colectividade durante o isolamento forçado da Covid-19. Ele esperava que o projecto, fosse intitulado “Juntos”. Seria distribuído para escolas públicas de toda a cidade para espalhar a mensagem de que "não estamos sozinhos".

“Estamos todos juntos nisso” foi reiterado milhares de vezes, mas você pode criar o equivalente simbólico dessa frase apenas usando a palavra “juntos” e, em seguida, fazendo com que essas letras [pareçam] como se fossem todas diferentes , mas todos relacionados ", disse Milton Glaser.