Estamos cercados por cavalos de Tróia

Desde há décadas que se procura perceber o que é e qual o objectivo e finalidade deste colosso design. Pois aqui não serei eu a dar uma resposta definitiva; irei apenas remeter para algumas reflexões e questões:

Será o desejo último do design ultrapassar a limitação que é o problema de ser humano e mortal? Serão as máquinas capazes de representar a proeza humana - e a sua técnica e tecnologia - sobre a natureza selvagem? E já agora, será a máquina fruto do design, da engenharia ou de ambos?

Pela semântica, o design quer, de facto,  dizer “armadilha” ou “armadilhar”, se olharmos para o dialeto anglo-saxónico onde o design é um verbo e um substantivo/nome; a metodologia do design parece acentuar estas características: o resultado do design deve responder a um problema.

©Unsplash

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Flusser diz que este engano é uma armadilha à própria limitação humana. O cavalo de Tróia, indica, é um óptimo exemplo de um projecto/design/desígnio enganador, que pretende ludibriar o utilizador. Esta peça é tanto fruto da engenharia e da técnica, quanto da imaginação do seu criador.

No limite, o design traduz as ideias e é um veículo entre o inexistente (uma ideia genial) e o real.

A verdade é que hoje em dia vivemos rodeados de cavalos de Tróia, desígnios pensados, produzidos e reproduzidos para nos fazer ultrapassar – e até derrotar – as limitações da condição mortal. O design, júbilo da actividade humana, é a prova de que o Homem procura alguma forma de imortalidade face ao que é a natureza ao seu redor.

Pensemos no sítio onde estamos a ler este mesmo texto, olhemos à volta e perguntemos, “o que é que aqui foi feito pelo Homem?”, é muito provável que quem está a ler isto esteja perante um ambiente cheio de cavalos de Tróia, que nos assaltam a condição natural, e transformam a nossa vida naquilo que chamamos de cultura artificial; é ‘natural’ que a resposta à questão colocada umas linhas acima seja “tudo!” uma vez que estamos cercados por desígnios.

A génese do design traz consigo as múltiplas perguntas, artificiais, e isso pode ser a razão pela inexistência de conceitos universais – ou, se quisermos, cânones do design.

João Barata

João Barata, com 32 anos, é designer de moda há mais de dez anos. É Licenciado em Moda, tem um Mestrado em Design de Moda; atualmente um Doutoramento também em Design de Moda. É Professor Auxiliar na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias em Lisboa.

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