Redesign do logo Warner Bros – O que podemos aprender ou desaprender

Cabe antes de mais, esclarecer que este ensaio não se atém exclusivamente ao anúncio do novo posicionamento da Warner Bros: Empresa de mídia famosa que fez recentemente a actualização do seu logo depois de em 2019 a Pentagram ter sido também responsável pelo rebrand da marca, actualizando a versão feita em 1993, do famoso logo 3D.

Este ensaio tem como objectivo analisar os aspectos que se podem aprender sobre processo de actualização da “cara” de uma marca (entenda-se a marca como sendo a reputação criada por uma entidade), o logotipo, neste caso.

É interessante que após um artigo recente que partilhei afirmando que “o resultado final de uma peça gráfica não é, mesmo que aprovada, a garantia do sucesso da mesma”, nos chegue a notícia de que uma das empresas (Warner Brothers Ent.) pela qual passou recentemente das mãos de um dos estúdios de design (Pentagram), anunciou novamente a actualização da sua ‘cara’.

Imagem 1 - Logotipo actualizado em 2019 (pentagrama)

Acima temos o resultado obtido pela equipe do estúdio de design Pentagram aquando da actualização visual da marca, face as dinâmicas tecnológicas do nosso tempo. Este resultado pode parecer peculiarmente exclusivo, porém, quando olhamos para a história dos redesigns da marca Warner Bros, concretamente em 1934 (ver a imagem 2), é possível notar que já houve, por parte dos envolvidos na época, uma solução próxima a que se apresenta acima. O que nos leva a concluir que de alguma forma, durante o processo a equipa tenha achado sensato usar um caminho já percorrido como forma de manter o DNA da marca.

Imagem 2 - Logotipo de 1934

A forma segue a função

Um dos elementos que caracteriza a identidade da marca é o escudo. Sendo este o que influencia na forma que as letras WB são apresentadas dentro do escudo, que por sua vez acaba por influenciar a família tipográfica como forma de manter a consistência da identidade. Entretanto, temos vindo a observar as tendências de redução dos elementos dos logotipos, e nesse exercício nem toda redução resulta numa solução satisfatória. A insatisfação dos espectadores em relação ao redesign de 2019 (imagem 1) é consequência da mudança radical do que já tinha se tornado num símbolo para os espectadores.

O fim de uma solução que um designer gráfico busca não é a beleza do objectivo pretendido, porém, a consequência da relação criativa do conteúdo e a forma. Mas o que dizer, estamos num boom de redesign para redução dos detalhes para dar jus a palavra mais citada nos últimos tempos, o design minimalista. Facto que condicionou para a remoção de mais um elemento característico da identidade que é o contorno dourado.

Se pouco for mais, é um paradoxo

Conhecemos a expressão “Pouco é mais”, porém, Milton Gleser respondeu a essa frase popular dizendo que: “pouco não é mais. Apenas o suficiente é mais”. Glaser foi responsável pelo símbolo que se tornou universalmente conhecido: I (coração) NY, que também sofreu um redesign recentemente que, por acaso considero desnecessário porque não possui o elemento universal que o antigo carregava.

É desta forma que nos introduzimos ao novo redesign que buscou resgatar a essência da cara (logotipo) da Warner Bros.

Paula Scher, uma das designers proeminentes no que concerne a criação de identidade visual, advoga que é mais difícil fazer redesign do que criar um logotipo do zero, isto porque está a mudar-se algo que para além da aparência, há uma ligação sentimental da identidade visual com os espectadores. A mudança pode, quando radical e desnecessária acionar o botão de revolta a quem já tinha se conectado com o antigo. Provavelmente seja essa a ideia que originou o resultado obtido pela equipa da Chermayeff & Geismar & Geismar & Haviv: onde foram feitos ajustes tendo como base o logotipo concebido em 1993.

Foi adicionado novamente as bordas, mas desta vez com a cor amarela assim como nas letras, essa que se aproxima do dourado anteriormente utilizado. E francamente, esse pequeno detalhe reviveu mais a ‘cara’, principalmente para o segmento no qual está inserido. Há já também um contraste entre os elementos. O gradiente aplicado internamente dá, ao mesmo tempo, a sensação óptica de profundidade, onde o azul se mostra mais escuro comparativamente com o lado mais claro. Segundo a equipa que trabalhou neste projecto, a fonte também teve que ser ajustada para casar com a forma agora materializada.

Imagem 3 - Logotipo actual

Aboubakar Bin

Aboubakar Bin é designer gráfico, pesquisa e escreve conteúdos relacionados a design gráfico, natural de Maputo. Estudante de licenciatura em design no ISArC. É fundador do podcast Design informa.

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