Somos seres de lutas (I)

Nós, seres humanos, somos movidos pela luta em todas as esferas de nossas vidas. Desde que nascemos, lutamos para alcançar dos pequenos aos mais altos resultados, por isso, gatinhamos, andamos e depois corremos.

A palavra luta pinta todas as áreas científicas e culturais, com o intuito  de gerar soluções para o bem individual e principalmente colectivo.

Falando de cultura, a dança Xigubo é um símbolo cultural de luta e resistência do povo moçambicano contra o colonialismo português.  Ou seja, ainda que as barreiras sejam grandes, a vontade de luta de um povo resiste sempre, utilizando estratégias evolutivas que o inimigo muitas vezes não tem domínio.

Sendo profissional em comunicação visual, sinto a responsabilidade de utilizar meu conhecimento para contribuir socialmente diante dos desafios actuais. A minha luta é tornar o meu ofício  um exemplo prático para amadores, estudantes e profissionais da área de comunicação visual, especialmente no campo do Design de Comunicação, incentivando-os a dedicar parte de suas habilidades à luta pela libertação de Moçambique perante o caos, após as recentes eleições que tiveram lugar em Outubro deste ano.

Os estudantes de Design, por exemplo, podem pensar em monografias que abordem a crise sócio-político-económico que Moçambique atravessa e desenvolver projectos de Design de Comunicação capazes de precipitar soluções que o país almeja alcançar e sugerir propostas de campanhas visuais de prevenção ao crime eleitoral  para que nas próximas eleições não se repitam os mesmos cenários.

 

O Potencial do Design de Comunicação na conquista da paz

O Design de Comunicação possui uma grande vantagem: a capacidade de  oferecer soluções inovadoras em diversas áreas da vida e pelo facto de usar a imagem como recurso principal de comunicação facilita o alcance de objectivos retóricos de educação e mobilização de massas. 

Historicamente, a comunicação visual tem sido crucial em momentos de crise. Durante a Primeira Guerra Mundial, por exemplo, cartazes foram utilizados para mobilizar as massas e transmitir mensagens claras. Na luta pela independência africana, cartazes se tornaram ferramentas poderosas. O Medu Art Ensemble[1],

Manifesto #01 Stop

A África do Sul produziu uma série de pôsteres que expressavam a resistência contra o apartheid e promoviam a conscientização sobre os direitos humanos. Outro exemplo é o cartaz "A liberdade é um dever" da luta pela independência da Guiné-Bissau, que simbolizava a determinação do povo em lutar contra o colonialismo português, tal como aconteceu em Moçambique, a luta pela independência, foi marcada por cartazes que expressavam a resistência e a determinação do povo. Alguns exemplos notáveis incluem:

* Cartazes da FRELIMO: Utilizados para mobilizar apoio e celebrar marcos da luta armada, como o cartaz comemorativo do décimo aniversário da Luta Armada, de 1974 . [2]

Manifesto #02 Paz

* "Invasão, Opressão, Resistência": Cartaz de 1973 que retratava a história da resistência moçambicana ao colonialismo. [3]

Manifesto #03 Luta

Cartazes como esses, foram importantes na comunicação visual durante a guerra e na tentativa de sugerir uma identidade nacional com valores de resistência e paz.

Ancorado ao espírito de patritismo, apresento uma série de cartazes de intervenção social que visam impactar positivamente e ajudar a alcançar as soluções que a nação moçambicana tanto deseja em um momento socialmente crítico, onde o povo clama pela liberdade de expressão, direitos a manifestação sem ataques policiais violentos e alguns casos mortais, etc.


 Pontos de saídas

Durante as manifestações, além do barulho característico das panelas, vuvuzelas e queima de pneus, observa-se o uso de frases impressas ou desenhadas em papel e em outros suportes bastante inspiradoras que expressam objectivamente o desgaste e a vontade do povo. No entanto, a presença de trabalhos de designers freelancers e agências de comunicação ainda não é suficientemente notável ou é quase que inexistente na busca por soluções para os problemas actuais que Moçambique enfrenta. Essas intervenções no campo de Design, podem ser campanhas sociais de consciencialização, invocação da paz e da liberdade de expressão, como um acto coerente de responsabilidade social de quem o faz como parte integrante da sociedade afectada sem obrigatoriamente vestir cor partidária.

É nestas alturas que as agências que ganham prémios anualmente deviam ser parte da solução dos problemas que o país enfrenta, acreditando que estas poderiam ter um grande contributo na conquista do bem comum e conquistar cada vez mais a sua confiança com o povo e assim gerarem mais impacto nas suas próximas campanhas publicitárias cujo o grupo alvo destes é parte boa do povo moçambicano. Obviamente, que este assunto é polémico, pelo facto se ser político, mas, uma mensagem criativa que apela paz (como quem diz: a paz é o nosso maior valor) seria no mínimo um acto generoso e de grande contributo por parte de quem compreende toda psicologia e retórica de manipulação de pessoas. Acredito que haja uma forma imparcial de apoiar a paz em Moçambique tal como tentam alguns intelectuais e artistas nossos que não escolheram o silêncio.

 

Objectivos do Projecto

O principal objectivo deste projecto é utilizar o Design de Comunicação como a voz do povo moçambicano. Através de um estudo aprofundado dos problemas político-sociais que estamos enfrentando, consegui reunir dados relevantes e propor esta série de pôsteres. Cada peça resume visualmente o clamor e a esperança do povo moçambicano, expressando suas aspirações por um país livre dos diversos desafios sociais e económicos que enfrenta. Parte dos pôsters lembram também que o único caminho acertivo é pela paz que se conquista a paz.

 

Símbolos e Tipografia

A escolha dos símbolos que representam os anseios do povo foi influenciada pelo estudo do problema, buscando elementos icónicos que representam a resistência, a condição actual e os desejos do povo observáveis em manifestações populares.  A simbologia da dor e da paz reflectem os sentimentos e sonhos dos moçambicanos.

A tipografia utilizada (Afro Tech) foi escolhida por sua relevância local a nível do conceito, esta representa com a sua forma, presença óbvia, exclusiva e postura, pertence ao designer Aboubakar Bin, um jovem talentoso que tem se destacado neste campo e sobretudo no design tipográfico. Essa fonte reflecte a necessidade de pensar em soluções locais para problemas locais.

Como afirmado por Itanel Quadros, "o cartaz foi utilizado como um dos principais instrumentos ideológicos em conflitos armados" [4],

Manifesto #04 Amor partido

Demonstrando seu papel vital na comunicação durante crises. É com a mesma visão, e, guiado por fé e convicção que acredito que esta série de pôsters sociais, inspirados pelas manifestações em curso no país, poderão contribuir tanto na consciencialização sobre a necessidade de o jovem continuar a exercer activamente seu papel de cidadania e pressionar o governo e  outros políticos envolvidos nesta peça teatral dramática de guerra real a pautarem pelo caminho da verdade e paz para  solução dos graves problemas sócio-políticos e económicos que o país vive.

Os cartazes, tem como tema central manifesto, sendo que quem quiser baixar e imprimir para fins não comerciais pode seguir as instruções da postagem ou aceder os pdfs em A3 basta clicar a baixo.

1. Manifesto #01 Stop

2. Manifesto #02 Paz

3. Manifesto #03  Luta

4. Manifesto #04 Amor partido

 

A fonte usada para a criação da campanha #manifesto pode ser baixada gratuitamente aqui. Ou comprada aqui.

Referências:

[1] Cultura como arma de luta: o Medu Art Ensemble e a Libertação da África ... https://thetricontinental.org/pt-pt/dossie-71-medu-art-ensamble/

[2] [PDF] sinais desencontrados fotografia e propaganda em contexto colonial https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/8459453.pdf

[3] [PDF] Propaganda, Militância e “Resistência” no Cinema / Colonial ... https://revistacomsoc.pt/index.php/revistacomsoc/article/download/1642/1622/1770

[4] [PDF] movimentos nacionalistas e de independência dos países africanos https://cesad.ufs.br/ORBI/public/uploadCatalago/09435514022012Historia_da_Africa_-_Aula_9.pdf

Vasco Mahumane

Vasco Daniel Mahumane é designer de comunicação, artista visual, professor, rapper e produtor. Co-fundador da Beko Design. É licenciado em Design pelo Instituto Superior de Artes e Cultura - ISArC e tem uma formação psico-pedagógica pela Universidade Pedagógica.

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